Lançado filme que mostra mulheres da Comunidade Guerreira Zeferina; assista

Moradores da comunidade marcaram presença no lançamento do filme, que conta ainda história da líder quilombola

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A líder quilombola guerreira Zeferina, que viveu capital baiana no século XIX, é sinônimo de resistência e liberdade para homens e mulheres. Quase 200 anos depois, as ‘Zeferinas’ são outras, mas o ideal libertário e a luta permanecem.

Guerreiras como as centenas de mulheres que viveram na antiga Cidade de Plástico e hoje moram no conjunto habitacional batizado com o nome da líder, em Periperi. Representadas por quatro delas – Cassileide Bonfim, 42 anos, Miriã Santos, 37, Tâmara Duarte, 29 e Vanderlice Reis, 76 – elas protagonizam  o  documentário Zeferinas – Guerreiras da Vida, que foi lançado nesta segunda-feira (13) no Espaço Glauber Rocha. O média-metragem, produzido pela prefeitura e Propeg, está disponível no site zeferinas.com.br

Cassileide, que é dona de casa e mãe solteira de um casal, não tirou o sorriso do rosto. “Passamos por muita coisa até chegar aqui. Mas nunca duvidamos que teríamos um lar digno”, afirmou ela, no evento.

Não apenas as moradoras que participaram do filme participaram do lançamento. A doméstica Luciana Rosário, 40, por exemplo, levou as filhas Luana, 23, e Vitória, 13, para conhecerem a história de Zeferina. “É uma história muito forte e que tem a ver com a nossa. Fico feliz em me ver na tela”, pontuou.

A publicitária Mariana Silva, 27, também juntou as amigas e foi conferir o lançamento no Glauber Rocha. “É importante demais falar de representatividade. Além disso, a gente também vê a melhoria estrutural na comunidade, na infraestrutura. Vi o brilho no olhar dessas mulheres hoje, disse.

Em aproximadamente 25 minutos, o documentáro conta a vida dessas mulheres, que têm histórias de superação, e faz um paralelo com a trajetória de Zeferina, heroína do passado. Com entrevistas emocionantes, além de imagens fortes da antiga Cidade de Plástico e da paisagem que compõe a realidade atual das “zeferinas”, o documentário resgata esse elo, mostrando os maiores conflitos da trajetória de cada “guerreira” que habita o local, que fica às margens da linha férrea. “A gente teve muito cuidado de cruzar as histórias. Fazemos um contexto histórico tanto com a Cidade de Plástico como com a guerreira das lutas de 1826”, contou o diretor Marcio Cavalcante.

Segundo ele, foram dez dias de gravação – nove na comunidade e um no Parque de São Batolomeu, sede do Quilombo do Urubu, onde a escrava protagonizou a Batalha de Pirajá.

Para a atriz baiana Edvana Carvalho, 50, que interpreta Zeferina nas passagens históricas, a importância do filme vai além da mudança estrutural na vida das mulheres da comunidade. “É necessário que haja registros da nossa luta, que não é de hoje. Nós, mulheres negras, precisamos disso: de representatividade. Precisamos nos ver e estar nas telas e em todos lugares”, disse.

Quem também marcou presença no evento foi o prefeito ACM Neto. “Essas mulheres são verdadeiras guerreiras, que acreditaram em um sonho que foi realizado depois de muita luta. A gente espera que esse filme inspire líderes e que possamos transformar outros lugares do país”, destacou.

De acordo com a Presidente de honra da ONG Parque Social, Rosário Magalhães, o documentário mostra não só a transformação da comunidade como demonstra a força das mulheres baianas. “Elas fizeram de tudo para ter melhor qualidade de vida”, pontuou.

O Parque Social está capacitando lideranças para o fortalecimento da organização comunitária e fazendo a interlocução com parceiros externos a fim de trazer melhorias para a comunidade para que eles possam  ter um olhar diferenciado e exerçam a liderança compartilhada voltada para o benefício da coletividade.

O idealizador do projeto, Fernando Barros, da Propeg, destaca que o doc segue uma tendência mundial de retratar histórias reais. “Zeferina é uma heroína real. O fato da história nunca ter sido contata traz um realismo. Em paralelo, temos histórias de mulheres tão guerreiras quanto ela que foram resgatadas de condições subumanas e hoje têm orgulho da sua história”, resume.

Matéria do Jornal Correio em 14 de maio de 2019

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